quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vale a pena " Ler de novo " .


Associação Brasileira das Universidades Comunitárias

Professor deve estar preparado para mudanças
 
Diante dos problemas enfrentados pela educação no país, como notas baixas nas avaliações, salas lotadas e falta de recursos, os professores têm cada vez mais o desafio de contribuir com uma educação de qualidade. E para abarcar todas as facetas que lhe são atribuídas, o educador precisa ultrapassar as barreiras que lhes são colocadas e estar preparado, acima de tudo, para mudanças.

Para a doutora em Sociologia e pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Diversidade da Unicamp, Helena Singer, o acesso às novas tecnologias e meios de comunicação é determinante para a mudança de postura do professor. “Com a Internet, o aluno tem tudo o que quiser num ‘clique’. Como não há possibilidade de competição com essa tecnologia, o educador perde o papel de ser o único transmissor de saberes para ser orientador e mediador dessa massa de conhecimentos”, explica. “O problema é que o professor não está se orientando para essa mudança”, critica.

Já para Eda Luiz, coordenadora geral do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Campo Limpo, localizado na zona Sul de São Paulo, além de estar preparado para mudanças, o professor deve ter um perfil de pesquisador. “Ele deve ser atualizar de forma permanente. A cada ano o professor recebe um público diferente, portanto um novo desafio. Por isso, tem que estudar e não se conformar somente com o saber que já possui”, pontua. “Se renovar não significa apenas fazer curso de capacitação profissional, mas sim crescer pessoalmente e reconhecer que tem muito a aprender ainda. É mostrar a cara ao invés de se esconder atrás da crise educacional instaurada”.

Perceber as necessidades do aluno, como ele aprende e se desenvolve também são fatores importantes, de acordo com ambas as especialistas. “O professor tem que se desvincular da idéia de que só ele transmite conhecimentos e se focar no aluno”, enfatiza Singer. “Reconheço que professores de escola pública, essencialmente, têm um desafio maior perante o problema da lotação das salas. Mesmo assim, não podem deixar de intervir. Tem que estar preparados para lidar com o aluno que sofre, tem problemas, alegrias, ri e chora. A condição de professor requer mudança e dinamismo. O educador não é uma máquina”.

Singer lembra que é importante que o educador tenha em vista que ele é um modelo para os alunos. “Suas atitudes, postura, conduta e valores são espelhos para os educandos”, lembra.
Luiz acredita que muitos professores já têm percebido que esse é o momento de enfrentar os desafios impostos e mudar. “Se não perceberam ainda, os resultados das avaliações educacionais farão com que percebam. Esses testes provam que é obrigatória uma tomada de decisão. Entretanto, a mudança de postura para encarar os problemas do ensino não deve partir só dos educadores. Deve ser coletiva e não isolada”, acredita. “Essa crise tem um lado positivo no sentido de por fim ao modelo educacional atual”, lembra Singer.

Singer conta que as escolas que trabalham na perspectiva da educação democrática têm conseguido dar vazão ao atual quadro. Nas escolas democráticas os alunos escolhem como e o que pretendem estudar, realizam assembléias coletivas e são responsáveis pela gestão da instituição. “A educação democrática tem crescido junto com essa crise e pode ser alternativa a ela”, defende.
Experiência

Incomodada com a realidade da escola regular, Luiz ajudou a transformar a realidade de pelo menos uma delas: o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Campo Limpo. Nesse movimento, envolveu professores na tarefa de trazer a comunidade para escola e se preocupar principalmente com o aprendizado do aluno.

“Foi a união de professores que acreditam na mudança da escola que fez a diferença. A inquietação desses educadores com o sistema tradicional de ensino fez com que surgisse um novo modelo nessa escola”. Para isso, foi formado um grupo de estudos para estimular novas discussões.

A gestão participativa, na qual professores, alunos e comunidade se envolvem foi a base para que a escola fosse transformada. Tudo começou em 1.999, quando Luiz foi convidada para coordenar a educação de jovens e adultos. A comunidade foi a primeira a ser procurada. A idéia era envolvê-los nas questões que giravam em torno do aluno. “Começamos a promover assembléias dentro da escola para discutirmos problemas e propormos soluções. O aluno não é só responsabilidade do professor, mas do diretor, da merendeira, do porteiro, da faxineira e da comunidade”, acredita.

“Se jovens e adultos tem como princípio a autonomia, por que não podem decidir nada?” Foi a partir desse questionamento que os alunos começaram a participar da assembléia coletiva, de forma que pudessem definir o que queriam estudar. “Quem está no EJA já viveu esse mundo letrado e restrito. Não dá para empurrar conteúdo e repetir uma fórmula que lá atrás não deu certo”, aponta Luiz.

“Nosso projeto pode ser bom hoje, mas não servir para amanhã. Porém com a força de vontade que os professores daqui têm de transformação de si próprio e da sociedade me leva a crer que esse movimento será sempre contínuo.


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