Avanços sociais não se refletiram nos índices de criminalidade; debatedores apontam falta de convívio como causa.
Entre opiniões pessimistas e esperançosas sobre segurança pública, o consenso de que a pobreza não é explicação para a criminalidade no país foi um dos poucos alcançados no debate "Violência tem cura?", promovido pela Folha nesta segunda (1º).
"A violência aumentou nas últimas décadas, apesar dos avanços na redução da miséria e da desigualdade", disse o coronel reformado da PM José Vicente da Silva.
Com experiência diária na educação de jovens infratores, Êda Luiz, diretora do Cieja (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos) Campo Limpo, concordou.
Para fundar a escola, há 15 anos, em uma área disputada por traficantes na periferia de São Paulo, ela envolveu a comunidade. "Hoje deixo a escola aberta das 7h às 23h30. Entra e sai quem quiser."
Ela trouxe ao debate Ânderson Ailton Odorico, 24, ex-usuário de drogas, que até os 20 anos nunca tinha pisado numa escola. "Ninguém mais acreditava em mim. Na escola, tive uma nova chance."
Para o jornalista Gilberto Dimenstein, mediador da mesa, a violência vem da "baixa convivência entre as pessoas".
A secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, defendeu uma mudança constitucional que permita maior participação do governo federal na segurança. "Nós nos sentimos meros repassadores de recursos."
O vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, ressaltou que as políticas sofrem pela falta de continuidade. "Muda o governo e perde-se o que se tinha obtido."
O juiz da 1ª Vara Especial da Infância e da Juventude de São Paulo, Egberto Penido, defendeu a justiça restaurativa, que reúne infrator, vítima e pessoas do convívio de ambos. "O diálogo ajuda a romper o círculo da violência", disse.
O debate marcou o lançamento do projeto final da 58ª turma de trainees daFolha (folha.com/violenciatemcura).
Um comentário:
Moro no interior da Bahia e concordo plenamente com a temática da "causa" da violência. Pobreza não consequência da baixa renda e sim da baixa convivência. A falta de dialogo está presente em todos os cantos do país e do mundo. Meu município tem aproximadamente 20 mil habitantes, sou professora, mãe e mulher e vejo o quanto estupidez está crescente nas relações humanas. Jovens possuem Iphones, pais adquirem bens de consumo e no entanto a agressividade na fala e nas atitudes chegam me chocar e frustrar.
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