segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Dona Eda - Sem professor ou carteira - Reportagem UOL


 O que é hoje o CIEJA Campo Limpo era centro Supletivo de Educação de Jovens e Adultos, mas percebemos em 1998 que essa escola não dava muito certo porque era através de apostilas, eliminação de matérias. Até tinha professor para tirar dúvidas, mas os estudantes por si só tinham que estudar as apostilas e fazer as provas. Estudar sozinho é muito difícil. Requer muita disciplina, muita compreensão, e as dúvidas não são tiradas — para mim, é na troca que você começa a refletir e aprender.

 

Em 2000, mudamos para CIEJA, Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos. Saímos no bairro em que estávamos na Vila das Belezas, perto de Santo Amaro, e fomos para o Capão Redondo, que tinha o maior índice de evasão escolar entre jovens e adultos, além de uma alta população imigrante com baixo grau de escolarização e, por isso, eram pessoas com dificuldade de ingressar no mercado de trabalho. Chegamos no lugar mais violento do mundo, na época, e percebemos que tínhamos que fazer uma educação diferente: escutar as pessoas que estavam fora das escolas.

 

Para nossa surpresa, pediram uma escola sem carteira, sem professor e sem disciplina.

 

Eu vou te explicar por que. Um jovem de 15 anos me falou que a carteira é a cela solitária: você é obrigado a ficar quieto, fazer o que mandam, não pode se mexer, nem fazer qualquer outra coisa; a escola já tem essa característica de prisão: as cores, o ambiente disciplinador. Os estudantes não queriam que os professores trouxessem o planejamento pronto, queriam ser ouvidos, ter suas necessidades entendidas. Sobre as disciplinas, disseram que quando bate os 45 minutos da aula é quando você começa a aprender, se envolver com o conteúdo e vem o sinal — um barulho horrível, o qual corta o pensamento, deixa as dúvidas para serem vistas dali 4 dias. Esses estudantes queriam educação de outras maneiras.

 

Eda Luiz tem 72 anos e acredita que todas as pessoas vêm à vida com uma missão. "Tenho a felicidade de ter conseguido ser aquilo que eu sempre desejei ser. Educar é a minha missão; acredito demais na escola pública de qualidade para todos, como um direito", reflete ao final da nossa conversa. Eda gosta de ouvir samba-rock e educar para tornar as pessoas livres, visíveis e munidas de autoestima. Afinal, a partir do seu trabalho com a alfabetização de adultos, ela concluiu que, infelizmente, os analfabetos são invisíveis no mundo letrado, um preconceito que passa pelo não reconhecimento dos saberes de cada um e causa dano emocional, psicológico, um constante sentimento de não-pertencimento aliado a um vácuo identitário, da percepção de si como relevante na sociedade, como cidadão.


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