terça-feira, 13 de agosto de 2013

Brasileiros fazem volta ao mundo para conhecer escolas de 9 países

10/08/2013 07h00 - Atualizado em 10/08/2013 07h00

 O grupo conheceu escolas do Brasil, Índia, Indonésia e Suécia, entre outros. 


Resultado do projeto será publicado em livro a ser lançado em outubro.

Vanessa FajardoDo G1, em São Paulo
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Escola da Índia, Riverside (Foto: Divulgação)Crianças senadas ouvem a professora em escola Riverside da Índia (Foto: Divulgação)
A viagem de quatro brasileiros em centros de aprendizagem de nove países rendeu o livro “Volta ao mundo em 13 escolas.” A publicação de 260 páginas será lançada em outubro e distribuída para colaboradores, professores e estudantes de pedagogia, com o objetivo de “alargar horizontes”, como define o jornalista André Gravatá, de 23 anos, o caçula do grupo, usando uma expressão do escritor Manoel de Barros. Uma versão gratuita será disponibilizada na internet.
Para seguir na jornada que durou um ano – de junho de 2012 a junho de 2013 – a empresária Carla Mayumi, de 43 anos, a psicóloga Camila Piza, de 32, o pesquisador Eduardo Shimahara, de 40, além de Gravatá, fizeram uma ampla pesquisa com educadores. A ideia era pinçar experiências inovadoras em escolas pelo mundo. Na verdade, o quarteto não optou exatamente por escolas no modelo convencional, e sim, centros de aprendizagem públicos ou particulares que atendessem alunos desde educação básica e ensino superior, até atividades no contraturno escolar. O critério foi a diversidade.
Não queríamos mostrar experiências de uma escola só por causa do resultado de uma avaliação, por exemplo. A educação pode ser transformada com a diversidade. Estamos em 2013 não é possível chegarmos a um modelo único de educação"
André Gravatá, jornalista, de 23 anos
Os quatro se dividiram nas visitas pela Argentina, Estados Unidos, África do Sul, Suécia, Inglaterra, Espanha, Indonésia eÍndia. No Brasil, foram escolhidos três exemplos em São Paulo e um em Minas Gerais. Em São Paulo estão o projeto de educação para jovens e adultos da Prefeitura de São Paulo, o Cieja Campo Limpo; a escola da rede municipal Desembargador Amorim Lima; e a escola Politeia, da rede particular de ensino. De Minas Gerais, foi contada a experiência do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) que atende estudantes no contraturno escolar.
O Cieja Campo Limpo atende cerca de 1.500 alunos de todas as idades – há até idosos. As aulas mesclam disciplinas, sempre com dois professores em sala - matemática se mistura com artes, e geografia com história. Os alunos não são divididos por séries, mas sim, em quatro módulos que correspondem ao ensino fundamental completo.
A essência do CPCD nasceu quando o educador Tião Rocha, segundo Gravatá, perguntou à comunidade: “é possível fazer educação sem escola?” “A partir daí, surgiram diversos projetos educativos. Há um projeto que incentiva comunidades inteiras a perceberem que todos são educadores, realizando mutirões que transformam a casa das pessoas por meio da pintura das cisternas, instalação de banheiros secos e até da plantação de frutas e legumes com uma técnica sustentável, sem o uso de agrotóxicos.”
Amorim Lima, em São Paulo  (Foto: Divulgação)Escola Municipal Amorim Lima, em São Paulo
(Foto: Divulgação)
A escola municipal Desembargador Amorim Lima criou um processo de estudos centrado em grupos e na autonomia individual. Os alunos passam a maior parte do tempo em amplos salões, onde exploram os temas de "roteiros de aprendizagem" - a escolha dos assuntos do roteiro que serão estudados é do próprio aluno. Na Politeia, os alunos também trabalham por meio de projetos, a partir de temas que os interessam. As assembleias representam outro elemento essencial da escola, possibilitam que as regras sejam construídas coletivamente.
Games, pizza e cacau
Fora do país, o grupo passou por desde escolas em Nova York que usam games para ensinar, a 'Quest to Learn'; por colégios na Suécia que oferecem um computador de última geração para cada aluno, o 'YIP', até escolas na Argentina que substituem as reuniões de pais por um mutirão para montar pizzas que depois são vendidas para arrecadar dinheiro para a escola, como as 'Escuelas Experimentales.'
“Não queríamos mostrar experiências de uma escola só por causa do resultado de uma avaliação, por exemplo. A educação pode ser transformada com a diversidade. Estamos em 2013 não é possível chegarmos a um modelo único de educação”, diz Gravatá.
As escolas [da Índia e Indonésia] são particulares, mas não têm grandes recursos, só aplicam metodologias diferentes. É o conceito da microrevolução, do ‘eu vou fazer minha parte.’ O professor insatisfeito buscar uma prática diferente, é possível, através das pequenas práticas, mudar muita coisa"
Carla Mayumi, empresária, de 43 anos
Na África do Sul, os brasileiros viram uma escola que oferece cursos de mestrado e doutorado ligados à sustentabilidade, a 'Sustainability Institute'. Na Espanha, a experiência foi com empreendedorismo da 'Team Academy'. No curso, de ensino superior, os alunos trabalham com clientes reais, têm de abrir uma empresa na primeira semana de aula, e há uma rotatividade de funções nos grupos.
Riverside School, da Índia, as crianças aprendem por temas. Quando a instituição recebeu a visita dos brasileiros, o tema da lição era o cacau. Os alunos aprenderam a fazer chocolate, durante a receita cada um teve de incluir um ingrediente que tivesse relação com a sua personalidade, depois aprenderam a história do doce e organizariam uma feira para vender o produto na comunidade. “O dinheiro da venda seria investido em uma ONG. Os alunos da Riverside iriam visitar essa instituição depois. É uma forma de conexão com a realidade”, afirma Gravatá.
Na Indonésia, a experiência foi com a Green School que recebe alunos do ensino fundamental e médio com uma das missões de trabalhar o lado sensorial das crianças. “O professor disse que o grande objetivo dele era de que os alunos olhassem para a natureza e dissessem ‘uau’. A abordagem da escola tenta mostrar o encantamento que está no mundo”, diz Gravatá.
Escola Indonésia, Green School (Foto: Divulgação)Escola Indonésia, Green School (Foto: Divulgação)
‘Aproveitar o mundo lá fora’
A empresária Carla Mayumi esteve na Índia e na Indonésia. Carla trabalha com pesquisas é mãe de dois filhos – um de 19 e outra de 4 – e entrou no projeto porque queria entender sistemas de educação que dão certo e “sair da zona de conforto e aceita que não se confia mais em determinado modelo”. “Como lidar e falar com as crianças, a abordagem para ensinar foi uma lição em si. O que eu vi foram crianças felizes de estar na escola, tinham brilho no olho.”
Carla diz que as duas escolas aproveitam o “mundo lá fora” no ensino. “Há uma coisa forte para o olhar humano, interpessoal. Na Green School, os alunos foram conhecer o ambiente rural, o agricultor que plantasse algo que fica próximo à escola. Também convidavam as pessoas para ir à escola, não como um exemplo, mas para fazer com que vire uma relação mais cotidiana com o aprendizado.”
Os professores da Riverside, segundo a brasileira, vão até a casa dos alunos conversam com os pais. “Os pais adoravam porque quebra uma hierarquia, uma barreira que há com a escola. As escolas são particulares, mas não têm grandes recursos, só aplicam metodologias diferentes. É o conceito da microrevolução, do ‘eu vou fazer minha parte.’ O professor insatisfeito buscar uma prática diferente, é possível, através das pequenas práticas, mudar muita coisa.”
Financiamento
Para financiar a empreitada, o grupo participou de um crowdfunding (campanha na internet), onde conseguiu o montante de R$ 56 mil reais, com doações de 566 pessoas. A Fundação Telefonica também patrocina o projeto que não tem fins lucrativos.
“Vai ser um livro para pais inquietos, jovens curiosos e educadores empreendedores. É possível fazer uma educação diferente e ser inspirados por pessoas comprometidas. Vimos muita gente apaixonada, que trabalha com brilho nos olhos”, afirma Gravatá.
A proposta do livro não é de trazer modelos para que o Brasil copie, e sim, se inspire. O grupo também teve a preocupação de relatar os problemas das escolas. “Não queremos mostrar os 13 paraísos na terra, falamos das imperfeições também. Os erros são assumidos como parte do processo.”


CPCD de Minas Gerais (Foto: Divulgação)
Alunos reunidos para aula na escola do CPCD de Minas Gerais (Foto: Divulgação)

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