Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) Campo Limpo – São Paulo (SP)
“Que bom que você está aqui” é a
frase que cumprimenta quem chega no casarão cheio de grafite e árvores que
abriga o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) Campo Limpo,
na periferia sul da capital paulista.
O prédio já é um indício do modelo
de educação praticado nesta instituição, que existe há 22 anos e foi inspirado
no Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), criado por Paulo
Freire.
Referência em inclusão e
diversidade, o Cieja Campo Limpo tem uma grade curricular diferenciada, com
2h15 de encontros diários (como são chamadas as aulas por lá) para os(as) 1.547
educandos(as), que podem realizá-los de manhã, à tarde ou à noite – tudo
construído de forma coletiva, com a participação da comunidade escolar.
Imagem de Diego Elias Santana
Duarte, coordenador-geral do Cieja Campo Limpo.
É nesse processo de ouvir a
comunidade e abrir a escola que está a potência do Cieja. Nosso projeto
político pedagógico olha pra realidade e não comunga com as injustiças sociais.
Quem são esses alunos de EJA? Mulheres, em sua maioria negras; a população
nordestina. Por que elas estão tendo acesso a este instrumento de mudança
social, que é a educação, muito mais tarde do que deveriam?
Diego Elias Santana Duarte,
coordenador-geral do Cieja Campo Limpo
Há 17 anos, a instituição realiza
o Seminário Étnico-racial, que consiste em uma série de ações, realizadas ao
longo do ano, que objetivam a discussão racial, e que são concretizadas em
oficinas, bate papos, saídas culturais, palestras de convidados(as) especiais
etc.
Os professores e as professoras
também se organizam em comissões, que são grupos de pesquisa que desenvolvem
diferentes temáticas, como de gênero, étnico-racial, inclusão etc. As
atividades de formação de docentes são muitas vezes abertas à comunidade e
também profissionais de apoio – como a visita ao quilombo do Ivaporunduva, no
Vale do Ribeira, que aconteceu no ano passado.
Imagem da visita de educadores e
educadoras ao quilombo do Ivaporunduva, no Vale do Ribeira.
Visita de educadores e educadoras
ao quilombo do Ivaporunduva, no Vale do Ribeira
Para Diego Duarte, a chave de uma
escola antirracista está na priorização de um projeto que veja a educação como
um processo civilizatório, que deve ser garantido a todos e todas.
“Por que a nossa preocupação está
voltada para os números, para a burocracia, a documentação? Todas as pessoas
nascem com o mesmo potencial intrínseco, mas por questões econômicas,
políticas, raciais, de gênero, elas são jogadas para mão-de-obra. Imagina se
temos um processo educacional que tem essa visão holística, quantos cientistas
não teríamos nas favelas?”, diz.
Confira dica de materiais sobre
cultura e educação étnico-racial para formação docente
Gestão educacional: quando um
projeto vira política pública