Da área rural para a periferia: o homenageado Abdalaziz Moura, criador do Serta, foi a São Paulo conhecer o CIEJA Campo Limpo. Os dois colégios fazem parte do projeto Escolas Transformadoras
Aproveitando a visita a São Paulo para
participar da noite de abertura do Trip Transformadores 2017, que aconteceu dia
14 de agosto, o homenageado Abdalaziz Moura foi conhecer o CIEJA, Centro
Integrado de Jovens e Adultos, do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Moura é
responsável pelo Serta [Serviço de Tecnologia Alternativa], um
programa de educação rural em Pernambuco que, assim como o CIEJA, faz parte do
projeto Escolas Transformadoras – uma iniciativa global da Ashoka em parceria
com o Instituto Alana. O projeto foi lançado no Brasil em 2015 para reconhecer
e conectar escolas com propósitos inovadores, permitindo que seus líderes mudem
o cenário educacional do país.
“A mídia passa uma visão negativa das
periferias e de tudo que diz respeito ao povo, aos trabalhadores, aos pobres”
Na manhã do dia 15 de agosto,
acompanhado do pessoal do Escolas Transformadoras, Moura foi conhecer o centro
de educação na zona sul de São Paulo. “O que mais me chamou a atenção na visita
foi a convivência urbana com a periferia em cidades grandes”, conta o educador.
“Quem vive distante de São Paulo tem uma visão muito deturpada de lá. A mídia
passa uma visão negativa das periferias e de tudo que diz respeito ao povo, aos
trabalhadores, aos pobres. Escolas como o CIEJA quebram essa visão”, explica.
Abdalaziz percebe nisso uma identificação muito forte com sua região. Para ele,
o Nordeste também é visto como um lugar de pobreza, subdesenvolvimento e
atraso.
O dia no Centro Integrado contou com
uma programação cultural com o Sarau do Binho, um grupo paulistano que usa a
música como processo de apropriação e empoderamento dentro da sociedade. Depois
da apresentação, os estudantes desdobraram os assuntos abordados nas canções e
poemas em sala de aula. “A escola tem projetos de empoderamento muito fortes.
Por ser um EJA (educação de jovens e adultos), tem pessoas ali que abandonaram
a escola ou não frequentaram no período adequado, o que sempre vem atrelado a
um desempoderamento social. A pedagogia da unidade Campo Limpo é muito
significativa e diferente da tradicional. É focada em trazer mais autonomia e
protagonismo para as pessoas”, explica Antonio Lovato, coordenador do projeto
Escolas Transformadoras.
Esse protagonismo ficou presente para
Moura ao conhecer a escola. “Vi moradores extremamente solidários, responsáveis
uns com os outro e compartilhando saberes. Tudo com autonomia e liberdade. A
própria comunidade se sente responsabilizada pelo CIEJA. O que me impressiona é
que eles conseguem discutir a vida e o cotidiano para com isso aprender os
conteúdos de ensino fundamental e médio”, reflete Abdalaziz. As semelhanças
entre a escola do Campo Limpo e o Serta não param por aí. Os valores
trabalhados em ambas independem da região onde estão, cidade ou campo. São
valores universais, que se distinguem apenas nos conhecimentos práticos de quem
está em uma área rural, por exemplo com o plantio, já que Moura foi o primeiro
a levar o conceito de orgânicos a agricultores nordestinos, em 1987.
“Encontros como esse dão a garantia que
estamos no caminho certo”
“O Moura tem uma relevância importante
no programa por ter criado um espaço como o Serta, que é uma escola incrível, e
por estar envolvido nessa comunidade como grande mobilizador da educação”,
reflete Antonio. E a caminhada para continuar transformando a educação no
Brasil não é fácil, mas são encontros como esses que possibilitam mais força e
coragem para seguir adiante. “Quando fazemos um trabalho inovador, nos sentimos
muito sozinhos. Conhecendo outros inovadores, nos sentimos mais reconfortados.
Existe a sensação de que não somos os únicos doidos, poetas e sonhadores [risos].
Encontros como esse dão a garantia que estamos no caminho certo”, conclui
Moura.
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