Filme traz exemplos bem-sucedidos de escolas que fugiram do modelo tradicional e apostaram em nova relação entre alunos e professores
por Vinícius de Oliveira 7 de agosto de 2014
Por que toda aula tem de ser assim? Por que não mudar? Diretores, professores, pais e alunos questionam há anos os motivos que levam ao distanciamento entre a sala de aula e o mundo exterior. Diante do medo do vestibular e do mercado de trabalho, a discussão nem sempre avança e o modelo permanece o mesmo, mas, ao redor do país, várias iniciativas começam a mudar este quadro com ousadia resultante do contato entre escola e comunidade. Saem as grades, as paredes e abre-se espaço ao diálogo. Este é o ambiente do documentário Quando sinto que já sei, idealizado pelo empreendedor social Antonio Sagrado Lovato e custeado com ajuda de contribuições por meio do site de crowdfunding Catarse.
Quando sinto que já sei mostra escolas que se abriram para as comunidades e mexeram com a organização industrial que domina o ensino brasileiro: o professor lê, o aluno copia, vem a prova e… pronto. Depoimentos marcantes aparecem a todo o momento, como o do educador e antropólogo Tião Rocha, do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, em Curvelo, Minas Gerais, que compara o modelo tradicional a um “serviço militar obrigatório” a partir dos seis anos de idade: “A criança não precisa sofrer para aprender”, diz.
Também são acompanhadas experiências como a da criação da “República de estudantes” na Escola Municipal Campos Salles, em Heliópolis, a maior comunidade de São Paulo. Alunos lideram comissões, assumem postos de vereadores, secretários e prefeitos e aprendem a mediar conflitos, que são criados e resolvidos ao custo do interesse coletivo.
Até por isso, quem assiste ao documentário se depara com revelações vindas das próprias crianças, como Maria Helen dos Anjos, do Projeto Âncora, em Cotia, São Paulo. “Você pode estudar sozinho ou com alguém se você quiser, e diferente das outras escolas em que você é obrigada a ficar dentro das salas e não pode sair”, diz.
Ao tentar explicar por que novos modelos demoram a ser adotados, Quando sinto que já sei traz a palavra do pesquisador Leonardo Brant. As razões para esse receio são influenciadas pelo clima de tensão da vida cotidiana: “É uma tendência de viver em condomínios, em clubes. E quando as pessoas saem para as ruas, elas saem com medo”.
Seja nas escolas de ciências no Rio Grande do Norte e na Bahia fundadas pelo neurocientista Miguel Nicolelis, na Escola Municipal André Urani, no Rio de Janeiro, que recebeu o GENTE (Ginásio Experimental de Novas Tecnologias) ou nas outras que se abriram a experimentação, o resultado é estampado no rosto de cada criança, pai e professor. E Quando sinto que já sei coloca todos como atores principais desta mudança.
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