quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vale a pena Ler de novo

Especialistas discutem os desafios do professor de escolas de Educação Integral

Na Grécia Antiga, era na praça pública (ágora) que mestres como Sócrates e Platão se encontravam com seus discípulos para discutir política, cultura e ética.  Alguns séculos depois, o papel exercido pela praça foi transferido para a instituição escolar, que, desde então, é vista como a principal fonte de saber e conhecimento.  No século 21, o desafio é mostrar que tanto a praça quanto todo o restante da cidade podem ser espaços educativos e todas as pessoas que constroem tanto o espaço escolar como o o da comunidade são responsáveis pela educação de crianças e adolescentes.
Foi nessa perspectiva, saindo do prédio escolar e caminhando pela comunidade do entorno, que Eda Luiz, diretora do Cieja Campo Limpo, na capital paulista, descobriu que os estudantes poderiam contar também com os movimentos sociais, ONGs e comerciantes da região nos processos de aprendizagem. A articulação da diretora fez a população se envolver mais com a escola e compartilhar seus conhecimentos. Mães viraram educadoras. Integrantes de movimentos sociais tornaram-se educadores. A Unidade de Saúde local virou fonte de conhecimento e os professores que já atuavam no colégio puderam ampliar suas atividades.
Também nesse caminho, Severino “Billy” da Silva, que é professor de pessoas com deficiência no Cieja há mais de sete anos, entende que trabalhar em uma escola aberta à comunidade o ajudou a criar espaços de diálogo sobre inclusão com as famílias de seus estudantes. A prática cotidiana deu origem ao Café Terapêutico, em 2008. Atualmente, cerca de 70 pessoas participam todas as sextas-feiras do encontro, que vem fomentando o debate em toda a região sobre os direitos da pessoa com deficiência.
Billy afirma que a Educação Integral, que gera articulações entre escola e comunidade, garante que o estudante seja visto como um sujeito de direitos. “Dentro da sua proposta de educação integral, o Cieja Campo Limpo me possibilitou usar toda a minha criatividade em prol do trabalho educativo. Me sinto livre para criar uma infinidade de ações junto com alunos, familiares, comunidade e parceiros,  o que enriquece o meu fazer pedagógico e, consequentemente, amplia os horizontes de conhecimentos de todos os envolvidos no processo”.
Para Paulo Henrique Nogueira, coordenador do curso de especialização em Educação Integral do Grupo Teia ( Territórios, Educação Integral e Cidadania), parte do núcleo de Educação Integral da Universidade Federal de Minas Gerais, a formação do educador nessa concepção deve ir além das disciplinas aprendidas na universidade, articulando os saberes acadêmicos com as questões apresentadas pela sociedade e pela vida dos estudantes.  “A educação nasce integral. Educar é um ato de integralização. Antes da escola  existir enquanto lugar privilegiado, se educa na vida. Educar e socializar é uma perspectiva. Só posso socializar se eu incorporar e aprender  por meio das dinâmicas sociais aquilo que a vida exige e requer”, explica.
Para Nogueira, o período de estágio universitário deve trazer ao futuro educador maior articulação com o interior da unidade, possibilitando compreensão das lógicas culturais e a relação que os estudantes têm com a escola. “Não podemos pensar a formação de professores como algo menor. É preciso profissionalizar o estágio. Os médicos permanecem em residência por um ano. Por que os professores não passam por isso?”, questiona o professor, que acredita que o estágio de profissionais da educação devem ser remunerados e acompanhados de forma mais efetiva.  
A coordenadora do Teia, Lúcia Alvarez Leite, também acredita que é preciso existir diferentes elementos no processo de formação dos professores. “A formação tem que passar pela ampliação do universo cultural, para viver experiências na cidade, permitindo aos educadores o acompanhamento de seus educandos”, pontua.
 A ponte entre a escola e a comunidade
Desde que se tornou professora articuladora da escola municipal Helio de Souza, em Cuiabá (MT), Rita Rebelato tem enfrentado o desafio de integrar a escola à comunidade e envolver os professores de disciplinas regulares com as atividades diversificadas do programa de educação integral da unidade.
“Ao trazer a educação integral, a escola começa a interferir também na comunidade e as dificuldades das famílias dos estudantes passam a fazer parte do dia a dia escolar, e nós tentamos resolvê-los da melhor maneira possível”.
Para Rita, um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais que atuam na Educação Integral é ainda a falta de estrutura do prédio escolar. “Não ter um espaço adequado é uma desvantagem. Mas permanecer mais tempo com estudantes é uma grande vantagem, pois podemos conhecer mais nosso jovem, descobrindo suas necessidades e acompanhando seu crescimento”, aponta.
Segundo a professora articuladora, integrar os professores dos dois turnos é um processo importante, mas que se dá de maneira gradual. “Muitos professores do período regular se envolvem com as atividades do contraturno, mas outros ainda não participam. É preciso que exista insistência por parte do articulador junto à coordenação e direção escolar, na tentativa de integrar o currículo e mostrar que o trabalho em conjunto é o melhor caminho”, pontua, observando a necessidade da superação da lógica de turnos separados.
Currículo articulado
Para o professor do Cieja, são muitos anos reproduzindo conteúdos e práticas que não têm sentido na vida dos estudantes e, por isso, os professores devem mudar sua postura para realizar um trabalho que contemple a integralidade dos estudantes. “O professor precisa estar aberto para os novos desafios educacionais e, assim, conseguir formar um novo homem conhecedor de seus direitos, deveres, responsabilidades de ordem social, conhecedor de si mesmo e do outro. A articulação curricular deverá estar atrelada com todas as possibilidades de aprendizagem que poderão acontecer dessa relação de parceria”.
As práticas, porém, nem sempre acontecem da mesma maneira. Como a Educação Integral é um conceito novo entre as escolas, muitas vezes ela é implantada sem levar em consideração a proposta de articulação com diversos sujeitos e organizações essenciais para esse processo. Desde que se formou, a professora Lia Urbi optou em atuar em escolas públicas e quando a escola na qual trabalhava, em São Paulo, migrou para um modelo em tempo integral, Lia se desligou da unidade.
Para a educadora, é um desafio para o professor atuar oito horas diárias em uma escola de tempo integral sem que antes haja discussão dos problemas relacionais entre professores, alunos e demais trabalhadores. “Os alunos e os professores, em vez de sofrerem por seis horas com as péssimas condições de trabalho, agora sofrem oito”.
De acordo com o documento base do Ministério da Educação (MEC) para discutir a Educação Integral, a formação dos professores  nessa perspectiva requer conteúdos específicos de formulação de atividades, além de entendimento para o acompanhamento de projetos e de gestão intersetorial e comunitária.
Além disso, é imprescindível maior valorização do profissional de educação, permitindo dedicação exclusiva e qualificada à educação. O documento afirma ainda que  todos os trabalhadores em educação devem ser ouvidos e envolvidos na formulação do proposta de Educação Integral. E para isso, os municípios devem garantir o cumprimento do piso dos professores.
Fica a dica, professor! 
Para entender a formação integral dos alunos, o professor deve desenvolver estratégias de trabalho colaborativo com outros professores da escola, criando espécie de comunidade de aprendizagem colaborativa entre professores. Juntos, eles devem compartilhar seus anseios e propor estratégias de trabalho que respondam às demandas que identificaram (Veja mais dicas aqui).
O professor comunitário/articulador
Para implementar o Programa Mais Educação, o MEC aponta a necessidade de um professor comunitário, que irá desenhar a proposta do projeto pedagógico junto à escola de atuação. Esse profissional será responsável por mediar as relações entre escola e comunidade, fazendo um projeto de educação integral que nasça da relação entre desafios e vocações locais. Fonte: Série Mais Educação – MEC
(Ei, professor! Veja aqui dicas para articular e mediar as relações entre família, alunos e gestão escolar).
Mais Tempo para o professor
Para garantir o envolvimento desse professor, ele precisa ter tempo na escola. Assim, é fundamental que a gestão pública invista na dedicação exclusiva de professores na escola e que estes tenham garantidas horas de planejamento remuneradas. O plano de carreira do docente deve valorizar seu vínculo com a escola. (Clique aqui e veja textos sobre o papel do professor na Educação Integral).
http://jornalggn.com.br/blog/centro-de-referencias-em-educacao-integral/especialistas-discutem-os-desafios-do-professor-de-escolas-de-educacao-integral#.U_aggte6M2E.facebook


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