Um pouco mais de nossa história
Quando a diretora Êda Luiz chegou ao Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) Campo Limpo, situada na Zona Sul da cidade de São Paulo, que hoje é considerada modelo, era bastante diferente. Antes a instituição era um Centro de Educação Municipal de Ensino Supletivo (CEMES) que pouco dialogava com a comunidade e/ou com os alunos.
Na sua chegada, Êda decidiu escutar os estudantes e entender como eles se relacionavam com a escola, observando, inclusive, as taxas de evasão que eram bastante significativas.
Anos antes, Êda havia participado de um grupo na Ponticíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com o educador Paulo Freire e trazia muito da ideologia da educação libertária, a qual tem como objetivo fortalecer a autonomia dos estudantes para que façam escolhas de acordo com seus desejos e vontades. Para tanto, Êda acreditava que era preciso identificar espaços da comunidade que apoiassem a escola na construção dessa agenda de formação para autonomia dos estudantes.
As respostas dos estudantes anunciavam as mudanças necessárias. Juntos, eles diziam que queriam maior espaço de decisão, que não viam o que aprendiam como significativo e, por dificuldades do próprio contexto em que se inseriam, eram frequentemente forçados a abandonar os estudos.
Com essa bagagem formativa, a diretora iniciou um processo de reconhecimento dos espaços de mobilização já existentes no bairro onde a escola está inserida e, com isso, aproximou-se dos moradores, para que, as atividades da escola estivessem em diálogo constante com as iniciativas já em curso na comunidade para poder criar parceria com a escola. Esse caminho, pouco a pouco, rumava para a discussão e compreensão do conceito da Educação Integral, para mobilizar espaços da comunidade fortalecendo o processo de ensino-aprendizagem .
Para encontrar organizações que pudessem apoiar a escola, Êda e sua equipe diretiva e corpo docente, realizaram um grande mapeamento em todas as áreas do bairro. Nesse levantamento, foram em busca das lideranças da comunidade, equipamentos comunitários, organizações não-governamentais, empresas e setores comerciais, buscando identificar onde se localizavam e como colaboravam ou interagiam com a comunidade. Uma vez que todos os equipamentos foram listados e organizados, a gestão e professores criaram projetos específicos, apresentando possibilidades de integrar escola e comunidade.
Decisão Pedagógica
Para garantir a permanência e eficácia das parcerias e relação com os diferentes tipos de equipamentos comunitários, Êda e sua equipe reformularam o Projeto Político Pedagógico da escola, envolvendo alunos, famílias e demais funcionários para pensar conceitos, atividades e metas que efetivamente respondessem ao processo iniciado e compartilhado por toda a comunidade escolar.
Assim, a estrutura curricular do CIEJA Campo Limpo passou a ser realizada em horários flexíveis onde estudantes podem estudar tanto pela manhã quanto à noite. Como muitos estudantes jovens e adultos trabalham, optou-se em um modelo de aulas flexível, levando-se em consideração as dificuldades de tempo desse aluno.
Com o decorrer do tempo, chegaram também à escola muitos alunos com algum tipo de deficiência, levando a coordenação pedagógica a repensar o currículo escolar, que passou a integrar fortemente ações com as famílias desses estudantes.
O estudante do CIEJA Campo Limpo pode optar em estudar em três turnos, sem perda de conteúdo, caso ele estude em um dia pela manhã e em outro à noite. Com isso, em vez de se ter disciplinas tradicionais, como matemática e artes, o CIEJA criou quatro áreas do conhecimento, que englobam as diversas disciplinas tradicionais e incluem outras consideradas fundamentais para a EJA e para o fortalecimento da autonomia do estudante. São elas Linguagens e Códigos (LC), envolvendo as disciplinas de Língua Portuguesa e Inglês; Ciências Humanas (CH), que envolve as disciplinas de Geografia e História; Ensaios Lógicos e Artísticos (ELA), que envolve as disciplinas de Matemática e Artes e Ciências do Pensamento (CP), que envolve as disciplinas de Ciências e Filosofia. Além destas, o estudante também participa de aulas de “Projetos” e de atividades de acompanhamento individualizado.
Segundo a diretora da escola, o objetivo desse modelo de currículo é integrar as disciplinas, auxiliando o aprendizado do estudante, tornando-o mais eficiente, uma vez que ele pode utilizar o conhecimento de uma disciplina também nas outras áreas de conhecimento.
E, como complemento na integração com a comunidade, todas as aulas fazem uso do apoio da comunidade, trazendo tanto para escola as discussões e saberes dos moradores e equipamentos, quanto fazendo uso de recursos humanos, físicos e financeiros dispostos no território.
O currículo e todas as ações da escola estão em diálogo com os marcos legais e normativas para a modalidade de ensino.
Local: CIEJA Campo Limpo, localizado na Zona Sul de São Paulo (SP).
Responsáveis: Comunidade escolar
Envolvidos e parceiros: Famílias dos estudantes , diferentes organizações, empresas e moradores da comunidade.
Financiamento: A escola recebe a verba que lhe é destinada e todas as suas ações são previstas e gerenciadas no planejamento pedagógico. Embora raro, quando possível e necessário, o CIEJA conta com apoio das parcerias comunitárias para desenvolver ações não previstas.
Principais Resultados: A escola se tornou um centro de referência para a comunidade, que vê no espaço da escola um espaço de lazer, de reflexão e até de resolução de conflitos. Os estudantes passaram a se sentir valorizados e os resultados das avaliações melhoraram exponencialmente. As famílias, especialmente dos alunos com deficiência, muito se envolveram na escola e conseguem lidar melhor com o processo de aprendizagem de seus filhos.
Todas as ações da escola são registradas e comunicadas no blog, que é frequentemente acessado não só pela comunidade escolar, mas pela comunidade do entorno também.
Estou aqui emocionada com esse primeiro encontro com o CIEJA Campo Limpo,chegou em minhas mãos o livro Volta ao mundo em 13 escolas - fiquei encantada com os relatos. Sou Pedagoga, atuo como formadora de Professores em universidade de Pedagogia em Caruaru Pernambuco. Atualmente tenho uma turma na Universidade com a metodologia EJA e estava procurando projetos que fazem a diferença. Se possível me coloque em contato mais próximo do prof Billy para troca de experiências. Obrigada. Deus abençoe esse projeto sempre.
ResponderExcluirQue bom saber Denise.
ResponderExcluirMeu e-mail: severino.billy@gmail.com
whatsap: 9.9746.1900
Um "recado" para a Denise e para o Billy: em primeiro lugar PARABÉNS aos dois pela ocupação e pelo atendimento da população brasileira; em segundo, o trabalho da Denise, em Pernambuco e o do Billy no Brasil, só enriquece o "conhecimento" da gente, bem como desenvolve a SABEDORIA (mais que o saber, segundo Epicteto), para que a gente (inclusive EU) possa "pensar" e AGIR numa forma de tornar a EDUCAÇÃO algo "independente" da vontade e da disposição dos "governos" INCOMPETENTES neste assunto, que NÃO compete a eles, assim como TODOS os outros (saúde, transporte, etc,etc), que serão DOMINADOS pelos PROFISSIONAIS FORMADOS para isso, assim como os MÚSICOS que tocam na orquestra, "simplesmente" regida pelo maestro, que se LIMITA a isso. Isto é EDUCAÇÃO!
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